por Igor Vitorino da Silva*
Copa é adiada para 2015 e transferida para Suíça. Governo
Dilma despenca em aprovação e é derrotado nas eleições de 2014. Protestos
contra Copa recuam e extremistas são presos. CPI da Copa indica prisão de
centenas de políticos e empresários por desvios de verba e realiza a maior
frente política contra corrupção da história brasileira.
Esses sonhos são projetados todos os dias nas narrativas oficiais e oficiosas
que envolvem os debates sobre realização da Copa de 2014 no Brasil e a
correnteza de protestos que tomaram as ruas do país. Um caldeirão de paranoia,
interesses, oportunismos e desinformação projetam um cenário de instabilidade e
pânico em torno do megaevento destacando a incapacidade do país de realizá-lo e
prenunciando que será um vexame aos olhos estrangeiros.
A grande mídia tradicional e os partidos de oposição diariamente estão nos
incautos do Governo Federal fiscalizando o cronograma da Copa, buscando
maximizar ganhos eleitorais e financeiros, a cada erro ou incongruência
anunciam a debilidade da festa e ineficiência do Governo Federal. A cada
matéria fica a sensação que essa será a pior das copas do mundo e que a culpa é
da corrupção brasileira (principalmente, da desorganização do Governo Federal).
Entretanto, desde 2013 a grande mídia tradicional e os partidos de oposição
disputam o monopólio da crítica política ao país e à Copa do Mundo com os
movimentos sociais e protestos que resistem nas ruas. Acusados de violentos,
baderneiros e até de terroristas, principalmente os grupos que adotam tática
Black Bloc, passaram ser o grande temor dos “donos do poder”, visto que as suas
palavras de ordem não passam pela discussão eleitoral e nem da eficiência do
Governo Federal. Elas se direcionam para o questionamento da legitimidade da
mobilização de imensos recursos públicos para a promoção de uma festa privada
(empreiteiras e grandes corporações), assim como da reorganização das cidades
brasileiras (centralmente, as cidades sede de jogos) como mercadoria,
desconsiderando os interesses populares e as condições de vida dos mais pobres.
Enfim, questionam se realmente as instituições republicanas representam os
interesses do povo!
Na realidade, a Copa de 2014 e o Governo Federal vivem numa encruzilhada
política e eleitoral. Isso não significa que não teremos Copa de 2014. A beleza
dos estádios já terminados e o sucesso nas vendas de ingressos já prenunciam
que a festa não será pequena. Mas será uma festa com tons democráticos, apesar
das tentativas de repressão policial e política, em que os fogos dos estádios
juntar-se-ão aos fogos das ruas, talvez até dividindo as atenções das grandes
mídias. Na realidade, não há lugar mais no país para o nacionalismo ingênuo e
nem a acumulação eleitoral fácil. Democracia é ruído, e é por isso que os
conservadores são antidemocráticos, pois temem (e desejam eliminar) a
Diferença, as Negatividades, a Divergência e o Dissenso.
*Igor Vitorino da Silva é historiador, professor, capixaba e vascaíno.
Compartilhamos os mesmos sonhos, que digo, parecem impossíveis já que na última pesquisa, Dona Dilma seria reeleita em primeiro turno.
ResponderExcluirAchei teu blog em uma pesquisa sobre o caso Elisa Lam. Não sabia nada disso até ontem. Realmente intrigante.
Muito bom o blog, uma boa Serendipity para uma quarta-feira de cinzas chuvosa.
Bom dia!