Pyotr Pavlensky, artista russo. |
Black Blocs. Com certeza você já
ouviu falar algo sobre eles. O modo particular e polêmico como se
organizam e agem chama a atenção pela ousadia e consequências.
Certamente essa é uma forma bem particular de protesto, mas o que
estamos prestes a ver, nem se compara.
Você conhece o jovem da imagem ao
lado? Não? Eu também não conhecia. Até ontem, quando vi sua foto
estampada em tudo quanto é página de notícias de vários países,
em uma posição que particularmente, não considero muito
confortável.
Pyotr Pavlensky (Pedro, para os
íntimos) é um artista e ativista político russo de apenas 29 anos,
que ficou internacionalmente famoso em 2012 ao fazer um protesto
apoiando membros da banda punk Pussy Riot* que haviam sido presas por
“blasfêmia”.
Mas ele ficou famoso só por quê
apoiou as manifestantes? Não. Muitos outros famosos (como Paul McCartney, Green Day, Madonna, Julian Assange e Red Hot Chili Peppers) o fizeram e nem por isso chamaram tanta atenção. Acontece
que Pedro foi além do convencional.
Lábios costurados. 23 de julho de 2012 |
Na manhã de 23 de julho de 2012 ele
apareceu em frente à Catedral de Kazan com os lábios costurados
segurando uma placa que comparava a ação de Pussy Riot à de Jesus
quando expulsou os mercadores do templo (Mateus 21:12). A polícia o
levou à uma clínica psiquiátrica mas ele foi liberado pelos
médicos. A manifestação ganhou as manchetes não só pela forma
como foi feita, mas também pelo seu significado. Pedro criticou
duramente a relação da religião com o Estado, onde a Igreja
Ortodoxa Russa financia e apoia publicamente o governo de Vladimir Putin, atual
presidente, além de denunciar a realidade da censura cultural no
país.
Carcaça. 3 de maio de 2013 |
Na segunda vez que virou notícia, 3
de maio deste ano, o ativista agitava-se nu enrolado em fios de arame farpado em frente à Assembleia Legislativa de São Petersburgo, num
manifesto que ele chamou de “Carcaça”. Horas depois a polícia
conseguiu libertá-lo. Em depoimento, ele afirmou
que o ato foi uma representação da ação do governo russo sobre a
população, através da criação de leis e sistemas para reprimir,
manipular e ferir diante de qualquer tentativa de movimento.
Congelado. 10 de novembro de 2013 |
A aparição mais recente do artista,
que ganhou novamente as manchetes de vários países, foi neste
domingo (10) em que ele (outra vez nu) simplesmente pregou seus testículos na calçada da Praça Vermelha em Moscou. A escolha do
local eu ainda não entendi, talvez esteja relacionado ao mausoléu
de Lênin. Mas a data e o nome explicam muita coisa. 10 de novembro é
o dia da polícia russa, escolhido para protestar contra a forte
opressão policial. Já o nome, Freeze, que seria algo próximo de
“congelado” se deve à crítica da postura da sociedade russa de
uma forma geral, que se deixa controlar pelo governo, não reagindo
diante das arbitrariedades cometidas por ele. Pedro ficou imóvel olhando para seus testículos, representando a atitude inerte e
individualista dos russos de olhar apenas para si próprio e não
reagir, mesmo diante da dor.
Enfim, aqui fica o exemplo. Quer fazer a diferença? Faça diferente.
*A banda Pussy Riot é na verdade um
grupo ativista que usa performances musicais para protestar e
denunciar as injustiças cometidas pelo governo russo. Em março do
ano passado 3 mulheres, membros do grupo, foram presas condenadas por
“vandalismo por ódio religioso”. Elas simplesmente invadiram
uma Igreja Ortodoxa Russa e começaram a cantar uma uma versão punk de uma oração. A letra denunciava o tráfico de influência
a relação de Putin com a Igreja, o conservadorismo russo, a caça
aos homossexuais, entre outras coisas. Apesar do apelo da comunidade internacional que se sensibilizou com a situação das jovens, Putin
não voltou atrás com a medida radical.
**Enquanto eu escrevia este artigo, um site australiano publicou uma matéria dizendo que uma das integrantes presas do Pussy Riot, Nadezhda Toloconnikova, que estava incomunicável há semanas, foi transferida para uma prisão na Sibéria.
**Enquanto eu escrevia este artigo, um site australiano publicou uma matéria dizendo que uma das integrantes presas do Pussy Riot, Nadezhda Toloconnikova, que estava incomunicável há semanas, foi transferida para uma prisão na Sibéria.
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